“O que não pode ser, não pode ser
Mas deixa no ar esse algo bom
Que não conclui
Sei que algum dia pode acontecer
Mas nunca terá o ar tão único
Dessa noite”
Lucas Santtana
acordei com um enjoo que há tempos não sentia. você saiu tem menos de uma hora e eu estou aqui mergulhado nessa ressaca e no meu eterno cansaço tentando entender o que acontece aqui dentro. ontem quando você chegou achei que já tinha superado tudo. na verdade eu acho que realmente superei, mas sempre fica uma poeirinha que nem o alvejante mais poderoso consegue tirar. faz parte de estar vivo. assim como ainda ver alguma poesia no seu olhar ansioso e melancólico. nas palavras atropeladas que saem junto com a fumaça do seu cigarro. e eu essa fortaleza, represando todos os sentimentos e me mostrando apático para você enquanto te escuto no pátio do prédio em meio à ventania. mas dessa vez, minha camisa vermelha não estava lá para te cobrir. aliás, é bom não ter mais o seu cheiro nela. é bom não ter mais que te ver todos os dias. às vezes lembro daquela música que diz “o que não pode ser, não pode ser, mas deixa no ar esse algo bom que não conclui…”. é isso que sinto. enquanto te escuto falar de outras paixões tão efêmeras quanto as minhas, os dois já alterados depois de tanta cerveja. quando nos abraçamos ao nos vermos ou nos despedirmos. quando todo mundo fala sobre sua personalidade explosiva (até catastrófica), mas eu sei que é só alguém querendo botar pra fora esses sentimentos gigantes. talvez o que eu sinta seja até um pouco de inveja de como você se expõe. mas pra mim é suficiente poder falar sobre questões existenciais enquanto você presta atenção, sem julgamentos e questionamentos. no fim das contas, acho que o melhor que você fez por mim foi me ajudar a me enxergar. e o pior, foi não me mandar beber água ontem, porque o enjoo está me matando.
