os dias andam nublados por aqui. mas hoje quando acordei, enquanto preparava meu café, vi um raio de sol escapando pelo cobertor de nuvens, trazendo junto com ele um calor sutil, que somado à brisa e ao cheiro do grão, me levaram de volta aos dias que passei perto de você.
lembrei da noite quente em que resolvemos fazer massa na cozinha pequena do apartamento. eu insistindo pra gente tomar cerveja, mas você ainda preferindo o vinho. o que é no mínimo curioso, considerando que eu sempre preferi a sombra e os dias fechados, e você solar, com esse sorriso sempre brilhante nos dias de verão.
depois de jantar, já alterados, sentamos na varanda e acho que foi nesse momento que você se deu conta do quanto eu sentia, mesmo com meu silêncio. e então nos perdemos ali mesmo, os beijos profundos, os cigarros que nem foram tragados, queimando como nossos corpos. foram poucos dias assim, com você acordando depois de mim, me deixando te admirar na cama, um daqueles clichês que (não) esperava viver um dia.
agora, sentado na mesma varanda, com a outra cadeira de praia vazia ao meu lado, sinto saudades de beijar sua testa no meio da tarde, enquanto você dorme no sofá e eu venho pra este mesmo lugar ler um livro até você despertar.
como foi bonito e triste o dia que você precisou ir. e pra longe. eu sabia que esse dia chegaria. chovia no caminho, mas quando chegamos à estação o sol voltou trazendo um arco-íris, que refletia na sua mão como mágica, como se você tivesse sido responsável por aquilo tudo. não demos o último beijo, mas ficamos juntos olhando os morros e as construções que iam além da plataforma. tudo estava acabando, mas a gente não podia deixar esquecer.
faixa #1: para onde irá essa noite?